Brazuca de sucesso na indústria da maconha

Publicada em 22/05/2019

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Ela é jovem, bonita e bem-sucedida. Aos 34 anos, a brasileira Keila Santos se tornou uma empresária de destaque no ramo da cannabis medicinal nos Estados Unidos. “Não foi fácil vir até aqui. Eu e meu time lutamos contra a injustiça, policiais mal intencionados e contra o preconceito gigantesco”, lembra a empreendedora. Keila chegou em Miami com 22 anos e nunca poderia imaginar a trajetória extraordinária que percorreu. Antes disso, estudou em Londres. E foi lá na Europa que ela começou a pesquisar informações sobre a cannabis e suas propriedades. “Eu fiquei muito impressionada com os cafés que vi em Amsterdam, os da marca Green House (https://www.greenhouse.org), principalmente. Imaginei que aquela realidade um dia estaria em outros países desenvolvidos, como os Estados Unidos, por que não?”

Em alguns anos de EUA, Keila trocou a Flórida pela Califórnia, onde o uso da maconha medicinal já era permitido desde os anos 90, e lá iniciou a sua trajetória profissional relacionada ao mundo da cannabis. Passou a trabalhar em um dispensário. O dispensário é uma cooperativa de cannabis ou um local onde a maconha é vendida para uso médico ou recreativo. Atualmente, na Califórnia, já existem centenas de unidades. Lá na Holanda, onde Keila conheceu de perto, os dispensários são os famosos coffeeshops.

Rumo a San Jose, no oeste californiano, e mãe solteira, a jovem atravessou o país com o pequeno Gabriel para apostar no sonho de um dia ser empresária da indústria canábica. Logo no começou levou um baque, “Nesse primeiro dispensário em que atuei, começamos a fazer testes em alguns pacientes e fomos vendo bons resultados. Mas tivemos problemas logo em seguida. Depois de 3 meses funcionando, o dispensário foi fechado pela polícia da cidade num ato arbitrário e atabalhoado. Naquela altura, o cultivo para fim medicinal já não era mais proibido no estado”, contou Keila, com pesar. Ela chegou a ser detida e teve que lidar com a chateação de 3 anos de idas e vindas na corte de justiça local. Milhares de dólares gastos em multas e com advogados. Enfim, uma experiência para lá de desagradável. 

Keila tinha tudo para desistir da ideia meio maluca que já tinha custado a ela uma dor de cabeça tremenda. E a brasileira ainda corria dois riscos graves – ser deportada e perder a guarda do filho. Mas Keila é teimosa e ela tinha certeza do propósito de ajudar pacientes que buscam alternativas e muitas vezes não são atendidos ou compreendidos. Keila descobriu que fazia bem a ela a ideia de um trabalho que promovesse saúde para as pessoas. A brasileira já tinha visto que o potencial medicinal da cannabis era coisa séria e que o interesse de todos a respeito do assunto só crescia. Ela decidiu seguir em frente.

Em 2014, Keila já tinha parte no negócio e ao lado dos sócios, decide mudar as operações para um estado vizinho, o Colorado, com leis novas e muito mais claras do que as da Califórnia e lá o negócio floresceu. E foi neste mesmo ano que a comunidade científica foi surpreendida com a descoberta de pais de pacientes de síndromes raras de que surtos epiléticos poderiam ser evitados com o uso da maconha medicinal. Keila tinha acertado na aposta! Ao longo daquele ano o dispensário passou a se especializar no cultivo de cannabis rico em CBD – a substância que não é psicoativa e que está na presente na planta da maconha. “E assim surge a Revivid (https://revividbrasil.com). Na verdade, ela nasce na Califórnia, mas ganha vida adulta no Colorado", conta a orgulhosa Keila.

A empresa mantém 200 acres de plantação do vegetal. Nos EUA, a produção da Revivid é vendida em formatos diversos, de óleos medicinais a suplementos vitamínicos. Keila também fornece para vários pacientes brasileiros que buscam orientação médica e autorização da Anvisa para importar o canabidiol. O óleo produzido e comercializado pela Revivid tem finalidade medicinal e é produzido a partir da folha de cannabis, o “hemp”, com licença do Departamento de Agricultura do Colorado e selo do USDA – United States Department of Agriculture, que reconhece o produto como 100% orgânico, com teor abaixo de 0.3% THC da planta da família Cannabis Sativa.

A cannabis tem dois princípios ativos, sendo o THC (tetrahidrocannabinol delta-9) o mais conhecido – que causa efeito psicoativo – e CBD (cannabidiol), que tem finalidade medicinal. “Prevenção de convulsões, fibromialgia, epilepsia e também tem componentes anti-inflamatórios, bastante usado por esportistas”, acrescenta Keila. O Mercado de CBD movimenta atualmente US$ 450 milhões nos Estados Unidos e deve passar de US$ 2 bilhões até 2020. A Revivid faz parte desse mercado em expansão e a safra deve render 1 milhão de plantas somente este ano, que começam a ser colhidas no final de novembro. A empresária não pode dizer qual é o faturamento anual da Revivid. O sigilo da informação faz parte do contrato que ela tem com outros dois sócios americanos.

O grande desafio da brasileira, hoje, é poder distribuir o produto medicinal no Brasil, sem restrições. Atualmente, 3.000 pacientes já se beneficiam do tratamento. Os que não podem pagar tem que recorrer à Justiça para terem o tratamento pago pelo plano de saúde ou pelo sistema público de saúde, mas a burocracia ainda atrapalha os trâmites. A quantidade prescrita depende do tipo de doença. Um paciente com epilepsia, por exemplo, precisa de 100 a 200 miligramas por dia. Um vidro com 12,000 miligramas chega a custar 360 dólares. Para ajudar a essas famílias de brasileiros eles criaram, em 2015, a Revivid Hope Foundation. A instituição doa o medicamento para as famílias mais necessitadas. Atualmente, o programa atende 27 famílias em vários estados do Brasil.

“Quando eu recebo os vídeos, as fotos e os relatos das mães com crianças beneficiadas eu tenho uma sensação muito boa, a sensação de que eu realmente faço algo que pode transformar a vida de alguém. E isso tem um peso muito grande para mim. Nada paga esse sentimento bom”, conclui a jovem, bonita e bem-sucedida, Keila Santos.