Brasil se prepara para ter o primeiro banco genético de cannabis 

Universidade Federal de Viçosa busca autorização da Anvisa para cultivo em larga escala

Publicada em 18/10/2023

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Por João Negromonte com informações de Estadão

Um marco importante está se desenhando no horizonte da pesquisa e uso terapêutico da cannabis no Brasil. Segundo noticiou o Estadão, a Universidade Federal de Viçosa (UFV) está trilhando um caminho pioneiro ao solicitar autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o cultivo de cinco mil pés de cannabis, uma iniciativa que pode resultar no primeiro banco genético do país. 

O objetivo da UFV é caracterizar geneticamente as diversas variantes da planta, permitindo uma compreensão mais profunda de suas composições químicas. Isso é crucial, pois o conteúdo de canabinoides, como o canabidiol (CBD) e o delta-9-tetrahidrocanabinol (THC), varia de acordo com a variante da planta. Cada doença, por sua vez, demanda quantidades específicas dessas substâncias para um tratamento mais eficaz. Até o momento, o Brasil enfrenta um cenário de incerteza, com pouca informação oficial sobre as variantes disponíveis. 

Em entrevista ao estadão, o agrônomo Derly José Henriques da Silva, um especialista em genética e ecofisiologia de plantas da UFV, lidera este ambicioso projeto. Ele destaca que o banco genético não apenas beneficiará a pesquisa e o desenvolvimento de terapias medicinais à base de cannabis, mas também fornecerá suporte às famílias e associações que produzem produtos medicinais. 

"Atualmente, não temos informação oficial sobre as variantes, vivemos numa zona cinza. Queremos dar suporte para as famílias e associações que produzem produtos medicinais; são muitas famílias com problemas", enfatiza Silva. 

Uma das complexidades do cultivo da cannabis é que mesmo as variantes geneticamente caracterizadas em outros países podem apresentar características distintas quando cultivadas no Brasil. A variação de fatores ambientais, como temperatura, luz, água e solo, tem um impacto significativo na composição química da planta. Para superar esse desafio, a UFV planeja estabelecer parcerias com bancos genéticos de cannabis em diferentes países, criando uma rede global de conhecimento. 

Além das aplicações terapêuticas, a cannabis possui um vasto potencial na indústria, sendo utilizada na produção de perfumes e na fabricação de produtos por cervejarias. O cânhamo, uma variante da cannabis, é uma fonte valiosa de fibras utilizadas na produção de tecidos, cordas e materiais de construção. No entanto, a diversidade genética é essencial para otimizar o uso da planta em todas essas aplicações. 

A pesquisa sobre a cannabis está se tornando cada vez mais relevante, e a criação do primeiro banco genético de cannabis no Brasil representa um avanço significativo. Com essa iniciativa, o país busca se posicionar como um participante ativo na pesquisa global sobre a cannabis, conectando-se a uma rede de cientistas e pesquisadores em todo o mundo. A Anvisa já confirmou o recebimento do pedido da UFV, marcando o início de um capítulo promissor na pesquisa da cannabis no Brasil, com potencial para impactar positivamente a saúde e a indústria.