Até quando o tabu irá retardar o mercado bilionário da cannabis?

Marcelo De Vita Grecco analisa o setor no Brasil e afirma que o mercado de cannabis não cresce por causa da legislação

Publicada em 07/01/2023

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Por Leandro Maia

Apesar dos inúmeros estudos com comprovações científicas sobre os benefícios da erva, ainda existem muitos tabus que criam barreiras para a legalização e o crescimento do mercado de cannabis no Brasil.

Para Marcelo De Vita Grecco, cofundador The Green Hub – plataforma de tecnologia e inovação para negócios voltados para a cannabis medicinal e industrial – o setor ainda não conseguiu atingir todo o seu potencial de mercado porque se esbarra em uma legislação um tanto quanto antiquada.

Na opinião dele, a portaria nº 344, Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), de 1998, que não faz distinção de classificação dos variados tipos de cannabis, é uma das barreiras que a indústria da planta enfrenta no Brasil.

“Quando você tem uma portaria dessa que coloca desde uma semente, como uma flor ou uma fibra de cânhamo em um mesmo balaio com uma cannabis com altos teores de THC e, consequentemente, em uma mesma portaria, representa o aprisionamento das oportunidades", criticou.

Segundo Grecco, é preciso fazer com que o Brasil inicie um processo de organização dessa portaria. Assim, será possível “tirar algumas coisas de uma portaria antiga que não permite que o país avance, principalmente, no que diz respeito à saúde e bem estar.”

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Considerando que a indústria de cosméticos brasileira é a 4ª maior do mundo, a legalização ajudaria a fazer com que esse setor crescesse ainda mais com os derivados da planta.

“Quando você fala de uma semente de cânhamo, por exemplo, ela é proteína pura, não tem efeito psicoativo algum e nem canabinoide. Como a semente está na mesma portaria, acaba travando o mercado de cosméticos, alimentos e suplemento alimentares. O que interfere na produção de milhares de produtos porque a semente está na mesma resolução que o Canabidiol que depende de prescrição médica”, explica Grecco ao afirmar que não faz sentido a obrigatoriedade de receita para ter acesso à produtos de proteína puros.

Ele entende que se a semente de cânhamo saísse dessa portaria da Anvisa já seria um grande avanço para os setores de cannabis de uso medicinal e industrial.  Assim, novos investimentos seriam atraídos para o país.

Lá fora é bem diferente

Nos Estados Unidos, o mercado de cannabis cresce com mais entusiasmo. Além da capital Washington, o uso recreativo da maconha é liberado em 18 estados.

Apesar da morosidade da legalização ainda ser uma pedra no sapato da indústria no Brasil, aos poucos a mentalidade está mudando e as pessoas estão cada vez mais com a mente mais aberta para entender que o Canabidiol se trata de uma substância retirada da Cannabis e não tem nenhum efeito entorpecente.

Para a indústria crescer em solo brasileiro, a regulamentação do cultivo é um passo importante para o fornecimento de matéria prima para os meios de produção. É por isso que nos EUA existe a promessa de crescimento nas próximas décadas que tem atraído famosos que estão com suas próprias fazendas, além das lojas com produtos à base de cannabis.

O rapper americano Snoop Dog lançou em 2015 a marca Leafs By Snoop com um portifólio de produtos relacionados à maconha medicinal e recreativa. A marca desenvolveu embalagem personalizada.

Outro nome conhecido que investe nesse mercado é o do ator Jim Belushi. A estrela de Hollywood lançou a marca Belushi’s Farm em 2015. No entanto, a motivação para Jim acompanhar de perto o cultivo de cannabis orgânica em sua fazenda com grande capacidade de produção está além dos lucros. O irmão mais velho dele morreu de overdose de drogas e, por isso, um dos seus compromissos é promover a distribuição segura e responsável da maconha com o objetivo de ajudar as pessoas a se afastar do vício.

De acordo com a Associação Brasileira das Indústrias de Cannabis (Abicann), com base em dados da Euromonitor, a indústria da cannabis deve terminar este ano com faturamento de US$ 22 bilhões no mercado global de cannabis medicinal.

No Brasil, o seguimento deve atrair cerca de US$ 30 bilhões e gerar 300 mil empregos nos próximos dez anos. Assim, a regulamentação da cannabis no país é um assunto ainda que precisa ser debatido sem preconceitos e com os olhos focados no desenvolvimento econômico.