Associação Brasileira de Psiquiatria diz não haver evidências suficientes que comprovem os benefícios do uso medicinal da cannabis

Em nota, especialistas da Associação Pan-Americana de Medicina Canabinoide (APMC) rebatem o conteúdo da ABP

Publicada em 27/07/2022

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Por João R. Negromonte

No último dia 17 de julho, a Associação Brasileira de Psiquiatria publicou um posicionamento oficial de sua percepção sobre os usos de produtos derivados de cannabis. Segundo o documento, "não há nenhuma evidência científica convincente de que o uso de canabidiol, ou quaisquer dos canabinoides, possam ter qualquer efeito terapêutico para qualquer transtorno mental".

Ao mesmo tempo, o documento lembra que a adoção de substâncias psicoativas presentes na cannabis, como o THC e o CBD, causam dependência química, podem desencadear quadros psiquiátricos e piorar os sintomas de enfermidades já diagnosticadas.

O material tece também duras críticas ao veículos de mídia que "endossam estudos sobre os possíveis 'benefícios' da cannabis, corroborando para interpretações equivocadas e contribuindo para a impressão de que a maconha é um produto totalmente seguro e inofensivo para o consumo, sobretudo pelos mais jovens"

Para a ABP, este tipo de propaganda positiva em relação à cannabis, remete à época em que os cigarros de tabaco eram comercializados com chancela da mídia e por grande parte da comunidade médica, atendendo apenas a interesses financeiros de seus apoiadores. 

Contudo, a associação defende a continuidade das pesquisas sobre o canabidiol, composto derivado da planta que não possui propriedades psicoativas, isto é, que não causam efeitos sobre atividade psíquica ou mental. A ABP, reforça também a importância dos estudos e pesquisas sobre os efeitos colaterais e a probabilidade de dependência química dessa substância.  

Nota de esclarecimento da APMC 

Em manifestação ao posicionamento da ABP, a Associação Pan-Americana de Medicina Canabinoide (APMC), lançou uma nota de esclarecimento com a opinião de psiquiatras e neurologistas como Dr. Wilson Lessa S. Jr., Dr. Marcus Zanetti, Dra. Ana G. Hounie, Dr. Flávio Rezende e Dra. Raquel Peruybe, todos especialistas no tema. 

O documento oficial diz o seguinte: “os comitês científicos da APMC foram surpreendidos e alarmados por artigo intitulado ‘Position statement of the Brazilian Psychiatric Association on the use of cannabis in psychiatric treatment’ assinado por apenas dois autores, tratando-se de um artigo claramente enviesado por posições ideológicas e não científicas, sem menção a trabalho dos comitês científicos da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) ou mesmo uma simples consulta pública aos associados da ABP, de modo que parece refletir a posição de sua Diretoria, o que não representa um consenso da comunidade de psiquiatras a ela associados.”

Desse modo, a APMC explica que algumas distorções e aspectos errôneos, segundo a nota de esclarecimento, é uma forma de fomentar inverdades sobre o tema. A revisão feita por eles, ressalta que o documento da ABP conta apenas com a retificação de Kirkland et al (2022) - utilizada como base para a afirmação de que as evidências contidas ali são insuficientes para o uso clínico dos canabinoides no tratamento de transtornos mentais - deixando estudos importantes de fora da cartilha. 

Os especialistas avaliam ainda ponto a ponto do material da Associação Brasileira de Psiquiatria, rebatendo afirmações contidas ali com estudos, pesquisas e se posicionando diante das afirmações a respeito dos usos medicinais da cannabis. 

Confira a nota de esclarecimento da APMC acessando o link abaixo:

Associação Pan-Americana de Medicina Canabinoide