A planta e o seu equilíbrio

O mercado da cannabis está em constante mudança. O que era visto há alguns anos, já está ultrapassado e há muitas possibilidades para o futuro. Entenda esse processo de transição da planta na coluna de Cintia Vernalha.

Publicada em 19/05/2022

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Por Cintia Vernalha

Em uma sociedade com disparidades sociais cada vez maiores, com o desequilíbrio emocional crescente e uma busca constante pelo bem-estar, felizmente estamos redescobrindo a cannabis e a sua principal função: criar equilíbrio. 

É de conhecimento milenar o fato de a cannabis propiciar o equilíbrio do corpo e da mente e ser uma ferramenta excelente para o crescimento pessoal, emocional e físico. No entanto, esse equilíbrio não está apenas nas suas propriedades e efeitos no corpo, também podemos presencia-lo na cultura criada ao redor dessa planta.

Nos anos de proibição, a cannabis fez parte de um movimento que abraçou minorias e carregou bandeiras relevantes, como a luta de classes e a redução das diferenças sociais. Essas agendas trouxeram à cultura da planta um senso de comunidade e diversidade que poucas indústrias têm.

Na transição para uma economia legal, tributada e comunicada abertamente, muita coisa está mudando no mundo da cannabis. Há dez anos, não existia a quantidade de produtos que podemos encontrar hoje em países legalizados e muito menos pessoas discutindo a classificação genética das cepas com tanta propriedade. Isso sem falar nas lojas espalhadas pelo mundo, principalmente onde o uso adulto já é permitido, que impressionam pelo tamanho, organização e limpeza que apresentam, algo inimaginável há poucos anos. 

Essa mudança é uma resposta direta da indústria para seus novos consumidores. Nos últimos dez anos, a cannabis deixou de ser a droga ilegal e passou a ser reconhecida, em alguns lugares, como planta medicinal e recreativa aceita. Porém, nenhuma mudança na sociedade é tão rápida. 

O estigma que começou na década de 1930 ainda se perpetua e é devido a isso que a indústria tem se esforçado para se adaptar a essa nova realidade e combater o preconceito. A adaptação passa principalmente pelo caminho de mudar o posicionamento dos produtos e pela diminuição do uso de elementos que lembrem o antigo estereótipo.

A cannabis não é mais uma contracultura, e isso provavelmente fará com que alguns antigos admiradores dessa planta não tenham apreço pelos novos caminhos que a indústria está desenhando, e pelas características mais comerciais que hoje fazem parte de um mercado que, até pouco tempo, era quase artesanal. No entanto, é inegável o quão importante é levar essa planta para o mainstream e para as rodas de conversa mais diversas possíveis para que o processo de mudança social seja mais fácil e rápido.

O importante é lembrar que o objetivo de todos é o mesmo: a reforma das leis da cannabis, o amplo acesso à planta e seus benefícios e o fim do estigma de criminoso que paira sobre aqueles envolvidos de alguma forma nesse mercado. Criar uma indústria que cresça, mas que mantenha o seu senso de comunidade e inclusão original é o dever de todos que participam desse mercado.

Há algumas semanas, assistimos no Brasil à feira de cannabis medicinal organizada por esse canal, o Sechat, e ficou clara a diversidade de participantes que compareceram ao evento, além da sensação de pertencimento e responsabilidade que todos têm em relação a essa planta.

Temos a oportunidade única de criar uma indústria diferenciada, que já nasce com o dever de incluir os mais diferentes públicos. Os problemas que a indústria enfrenta, e ainda irá enfrentar, são maiores do que qualquer indivíduo. Teremos mais sucesso aproveitando a força coletiva e utilizando a diversidade de ideias e opiniões para construir uma indústria mais justa.

Colocar o consumidor em primeiro plano pode parecer clichê, mas com certeza é a resposta para construirmos essa indústria com o equilíbrio que a cannabis tanto nos ensina.

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e não correspondem, necessariamente, à posição do Sechat.

Sobre o autor:

Cintia Vernalha mora nos EUA, onde conheceu e se apaixonou pelo mercado de cannabis. Com mais de 15 anos trabalhando na área comercial de grandes corporações como Nestlé, Reckitt Benckiser e EMS, hoje une a sua paixão pela planta, a sua experiência executiva e a sua vivência em um dos maiores mercados de cannabis para assessorar empresas que desejam atuar ou melhorar seu posicionamento no Brasil.