A Mudança dos Riscos da Nova Era da Cannabis: Let your Bud be your Buddy

Dúbias composições, a qualidade dos produtos ofertados no mercado, as políticas regulatórias proteladas, a falta de acesso e o mercado paralelo aumentam os riscos canábicos

Publicada em 30/08/2022

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Por Adriana Russowsky

Os riscos canábicos não têm tanto a ver com o CBD por si só, e muitas vezes nem com o THC, mas sim com a dúbia composição e qualidade dos produtos oferecidos. Apesar das poucas evidências científicas, que hoje ascendem rapidamente, a Cannabis e o CBD tornaram-se extremamente populares ao redor do mundo com celeridade surpreendente. Flores e extrações são demandadas incessantemente, em meio a políticas regulatórias proteladas. A fabricação de novos produtos e formas surge focada em vendas, sensoriais e economia, e não na saúde humana e animal. O mercado paralelo, fomentado pela mídia, cultura e pelas governanças que atrapalham o acesso, acabam comercializando produtos sem qualidade e rastreabilidade. 

Todo consumo exige cuidados. Mas, no que estar atento?

Presença de contaminantes nos extratos, métodos de extração, formas de uso, conteúdo incorreto e mal interpretado, ingredientes adicionais para ajuste de propriedades como cor, viscosidade, gosto, tempo de validade e estabilidade. Já é sabido que fontes sem controle e rastreamento podem estar impregnadas com diversas substâncias prejudiciais, muitas vezes levando a problemas de saúde ou hospitalização. 

Contaminantes de Matéria-Prima: Agravamento e Início de Patologias

Óleos utilizados para tratamento de doenças podem, muitas vezes, ao invés de ajudar, levar a piora de quadros ou até ao surgimento de novas doenças. É o caso do Autismo e da Depressão e alguns pesticidas e agrotóxicos, por exemplo. O que ocorre é que os contaminantes das matérias-primas, podem estar presentes nos óleos concentrados finais. O mesmo acontece com metais pesados e doenças neurológicas e circulatórias, e são fáceis de estarem em produtos fitoterápicos, devido à contaminação do solo e da água utilizados no processo de cultivo. 

As contaminações microbiológicas também são preocupantes. As aflatoxinas, por exemplo, micotoxinas produzidas pelos fungos do gênero Aspergillus (extremamente comum em amendoins), predispõe a problemas gastrointestinais, baixa da imunidade, febre, alergias e dores de cabeça. Os laudos científicos das análises de controle de qualidade, além do doseamento dos canabinoides, devem ser realizados, e incluem a dosagem desses contaminantes, com base em padrões estabelecidos pela WHO (World’s Health Agency).

Extrações

Um contaminante especialmente relevante para óleos e fumígenos é a presença residual de solventes tóxicos utilizados nos processos de extração. Os extratos são geralmente manufaturados por extrações a álcool, por CO2 supercrítico, butano ou propano. O BHO, o óleo de haxixe extraído por butano (incluem as versões conhecidas como shatter, wax, sugar, honeycomb, pull’n’snap) e o PHO, por propano, têm sido associados com o desenvolvimento de doenças pulmonares, populares com o consumo dabbing (aquecimento para via inalatória, bongs e pipes). Extrações a álcool e com água, encontradas em metodologias de algumas formas como o budder, devem ser priorizadas, pois preservam melhor o perfil terpênico e aromático, com menor rendimento e maior custo, mas também com menor predisposição para o desenvolvimento destas doenças. 

Adulterantes e Veículos

O aquecimento e pressão utilizados em extrações para prensar óleos de cannabis da planta produzem o chamado rosin. Apesar da similaridade no nome, a cannabis rosin e pine rosin possuem  diferenças estruturais. O pine rosin, identificado como adulterante dos óleos e veículo de vaporizadores, ainda está sendo reportado na literatura científica. Disponível no mercado, é utilizado em produtos industriais como adesivos, ceras, seladores, soldas e vernizes. 

Conforme estudado na revista Forensic Science International em 2020, tem uma significante toxicidade por inalação, predispondo a asma e bronquite, em um processo similar a pacientes com injúria pulmonar, a chamada EVALI, tipicamente associada aos cigarros eletrônicos. O mesmo ocorre com seu derivado metil éster rosin. Outros adulterantes conhecidos são os triglicerídeos de cadeia média (TCM) e oleamida, ambos de origem vegetal, deslizantes conhecidos da indústria química. São comumente encontrados em cannabis sintéticas como o Spice ou K2, extremamente agressivas ao organismo, causando psicoses, paranoias, vômitos, lesões renais, entre outros prejuízos. 

Já o concentrado haxixe, histórico e cada vez mais comumente utilizado, tem uma extenso background de adulterantes. Glicose, sacarose, ácido abiético (um componente do pine rosin), além de pine rosin. Se fala também da utilização de canabinoides sintéticos como o 5-MDMB-PINACA e o antitussígeno dextrometorfano identificados em certos CBD e-líquidos para os dispositivos. Outro aditivo dos extratos, é o acetato de vitamina E, também  relacionado a EVALI em cigarros eletrônicos e vaporizadores. É utilizado como agente antioxidante e espessante, apesar da menor viscosidade quando comparado ao THC. Quando se fala em veículo de óleos de uso oral, as gorduras devem ser priorizadas pois otimizam a biodisponibilidade, devendo ser evitada a glicerina, por exemplo. Mas o TCM muitas vezes pode causar reações gastrointestinais, portanto, preste atenção, pois existem alternativas como o óleo de oliva e girassol para uso interno.

Edulcorantes e Substâncias Alergênicas em Comestíveis e Óleos

Para otimizar a adesão aos tratamentos, com a melhora organoléptica das formas farmacêuticas e comestíveis, as marcas acabam incluindo substâncias químicas para atingir este fim, sem nenhum valor nutricional ou de tratamento. É o caso de adoçantes artificiais, que acabam com a microbiota intestinal (relacionada a diversas doenças) e incitam ao excesso de consumo de doces. Além dos corantes artificiais, como amarelo tartrazina (yellow 5) e vermelho crepúsculo. Substâncias como estas predispõem a alergias, erupções cutâneas e congestão nasal. Agravam quadros de doenças inflamatórias intestinais e são até mesmo relacionadas a problemas cognitivos e doenças do espectro autista.

Ineficácia do Processo Produtivo

Uma outra observação interessante é a presença de altos níveis de canabinoides não descarboxilados. É sabido que CBD e THC não são produzidos pelo metabolismo da planta, e sim, excretados na forma de ácidos carboxílicos. Seus efeitos fisiológicos ainda estão sendo estudados, e somente após o aquecimento apropriado ( durante o ato de fumar, vaporizar ou cozinhar), estes precursores naturais rapidamente são convertidos nos canabinoides desejados para ação terapêutica. Este processo é chamado de descarboxilação, e na produção de óleos ocorre durante a evaporação de solventes ou como parte do processo de produção. 

Deve haver controle de qualidade para padronizar propriamente os canabinoides desejados. Muitas vezes, quando não se obtém a dosagem almejada com o processo, para remediar, produtores simplesmente adicionam CBD na marca, enquanto marqueteiam  o produto como óleo cru da planta, apelando para a naturalidade sem ética. Já os terpenos podem ou não estar presentes, dependendo da preparação ou método utilizado. 

São compostos extremamente voláteis, e temperaturas elevadas aplicadas durante a secagem dos materiais vegetais ou durante a evaporação de solventes, pode resultar em uma perda significativa das estruturas terpenóides. Contudo, é possível capturar estes terpenos evaporados por condensação, e reintroduzi-los de volta no óleo final ou até mesmo, adicionar produtos isolados reproduzidos em laboratório. Estes químicos já encontram lugar no mercado e se apresentam em estudos identificando oportunidades, mas ainda pouco se sabe sobre a segurança desses insumos isolados. 

Mesmo assim, muitas marcas tentam mimetizar o efeito Entourage e quem é conhecedor de fitoterapia sabe o quanto se perde nas ações terapêuticas quando se tenta isolar ou reproduzir a naturalidade das plantas.

Direito Humano e Animal - Let your Bud be your Buddy! Quality Organic Weed and Extrations for The People! A informação ainda é o melhor meio para prevenir o prejuízo do consumidor.

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e de responsabilidade de seus autores.

Sobre a autora:

Adriana Russowsky integrou o mercado canábico logo nos primeiros anos em que a medicina com Cannabis iniciou no país, pois devido seus estudos aprofundados e acadêmicos de fitoterapia, voltou seu olhar para as terapias com plantas e nutrientes, e utilizou como base sua experiência profissional e estudos em medicina integrativa. 

Hoje compõe e realiza estratégia os protocolos que desenvolveu e criou, dentro de empresas de comercialização de cannabis e de clínicas canábicas no país, e acredita que devem as instituições científicas e educacionais melhor informar os futuros médicos e outros profissionais desta necessidade de conhecimento, ampliando acredita o correto acesso a comunidade.