A Grande mentira e o novo jogador

O colunista Rodolfo Rosato traz elementos históricos que nos ajudam a compreender melhor parte da problemática do preconceito com a cannabis, inclusive na sua etimologia.

Publicada em 10/03/2021

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Coluna de Rodolfo Rosato*

Introdução: Escrevi esse texto antes de ler os textos que saíram na última semana aqui no Sechat, do Sr. Waldir Augusti e da Dra. Jackeline Barbosa, ambos falando justamente sobre preconceito. Devido à relevância do assunto, mantive o texto e segue um pouco mais sobre o tema. Não por coincidência em um momento onde forças obscuras atuam a favor de interesses econômicos, gralhando sempre as mesmas ultrapassadas e infundadas opiniões e tentando perpetuar as mentiras e a repressão contra a população.

Apesar de já ser avaliada, comprovado e certificada por toda medicina, ciência e tecnologia moderna, a cannabis ainda sofre com um enorme preconceito enraizado profundamente no inconsciente da população. E isso, atualmente, é um dos principais obstáculos a ser enfrentado.

Apesar de já ser avaliada, comprovado e certificada por toda medicina, ciência e tecnologia moderna, a cannabis ainda sofre com um enorme preconceito enraizado profundamente no inconsciente da população. E isso, atualmente, é um dos principais obstáculos a ser enfrentado. Seja na voz dos políticos, empresários e até ativistas e médicos do setor, eventualmente ouço certos comentários ultrapassados voltar à baila nas conversas e até em palestras.

Assistimos agora países movendo mundos (sempre com muitos fundos) para tentar impedir o avanço da real medicina canábica em favor até de um CBD sintético sem nenhuma comprovação, usando todo tipo de artimanhas, das mais antiquadas as mais modernas, patrocinado por grupos de interesse que repetem as mesmas calúnias criadas para basear toda uma proibição. 

“Uma mentira dita mil vezes, torna-se uma verdade” - Joseph Goebbels

Toda essa campanha de ódio e desinformação contra nossa amada planta teve início pouco após o término da proibição do álcool nos EUA. O estado, sem ter o que fazer com a enorme máquina repressiva que havia criado, logo achou um novo inimigo na cannabis, planta largamente utilizada à época pela população negra e latina do país. Sem critérios científicos, mas puramente raciais, colocaram toda estrutura repressiva criada na guerra contra a planta. Logo grupos de interesse e indústrias diversas, como a farmacêutica e as de tecidos sintéticos injetaram dinheiro para perpetuar a rede de mentiras e desinformação, dando assim sequência a pior campanha difamatória da história da humanidade.

Realizando e divulgando falsos estudos, feitos à medida para se obter os resultados desejados, como o famoso estudo com macacos  onde alegaram que cannabis matava neurônios, ou  patrocinando filmes de propaganda onde os “maconheiros“ sempre são retratados como pessoas inertes e incapazes de produzir na sociedade.

Realizando e divulgando falsos estudos, feitos à medida para se obter os resultados desejados, como o famoso estudo com macacos  onde alegaram que cannabis matava neurônios, ou  patrocinando filmes de propaganda onde os “maconheiros“ sempre são retratados como pessoas inertes e incapazes de produzir na sociedade. A indústria do ódio perpetuou esse preconceito e o colocou no inconsciente de todo planeta, hoje,  mesmo sabendo que a maconha não mata neurônios, e sim, auxilia na neurogênese e que os canabistas ( sejam eles pacientes canábicos ou os ervoafetivos) são pessoas normais, ativas e producentes, a sociedade teima em repetir e perpetuar esses velhos e incoerentes estigmas.

Atualmente vemos pessoas assistindo seus familiares definharem ou terem graves problemas causados pelos efeitos colaterais, inclusive danos neurológicos permanentes, devido aos medicamentos químicos, relatarem um medo de tentar uma alternativa natural e segura. Criou-se um medo intrínseco no cérebro das pessoas.  A qual ponto chegará a eficácia da propaganda? 

Recentemente ouvi o relato de uma mãe contando que estava receosa ao iniciar o tratamento com cannabis, mesmo com seu filho, na época ingerindo quatro medicamentos químicos pesadíssimos, sofrendo grandes danos colaterais e muitos deles irreversíveis. O medo reverteu os papéis e foi associado a algo natural ao invés das bombas químicas produzidas em laboratórios. 

Recentemente ouvi o relato de uma mãe contando que estava receosa ao iniciar o tratamento com cannabis, mesmo com seu filho, na época ingerindo quatro medicamentos químicos pesadíssimos, sofrendo grandes danos colaterais e muitos deles irreversíveis. O medo reverteu os papéis e foi associado a algo natural ao invés das bombas químicas produzidas em laboratórios. 

“Todo preconceito social foi jogado na maconha” - Drauzio Varella

Me recordo de um vídeo em que um médico, mesmo defendendo e relatando os benefícios e eficácia da planta, simplesmente não conseguia pronunciar o nome “maconha” , ao menos, cannabis, em todo o vídeo. Apenas fez referências a nomes “similares”, não sei se por vergonha ou por medo de ser julgado simplesmente por falar algo que ele sabia ser seguro e eficaz.

Repitam comigo: Maconha, Maconha, Maconha! E se acharem forte... Usem o elegante e discreto “Cannabis”.

Repitam comigo: Maconha, Maconha, Maconha! E se acharem forte... Usem o elegante e discreto “Cannabis”.

Ouço empresários do setor falarem abertamente  “contra” o THC, e defenderem o CBD isolado (até o sintético! ), quando sabemos que o THC é um dos mais importantes canabinoides de cura. 

Adoro dizer que se a cannabis fosse um time de futebol, o certinho, versátil e tranquilo CBD poderia até ser o nosso camisa 10, mas o polêmico, irreverente e divertido THC é com certeza o nosso clássico centroavante-goleador, o camisa 9.  E como em todo time, se tirar um dos jogadores, o time fica capenga. 

Até no meio ativista o preconceito às vezes se sobrepõe ao presente onde, mesmo aquele que defende com unhas e dentes a liberdade da planta, ao mesmo tempo diz  que “Só quem é pobre e preto tem direito a cultivar”. E onde entra a liberdade nisso tudo? 

Com todas essas divergências seguimos nessa sociedade onde a hipocrisia ainda tem alcance e se aceita, cultua e enaltece o consumo do álcool, droga ligada a maior parte dos casos de estupro, violência doméstica e assassinatos com armas brancas, enquanto se rejeita e se recrimina a planta que acalma, tranquiliza e cura. 

Com todas essas divergências seguimos nessa sociedade onde a hipocrisia ainda tem alcance e se aceita, cultua e enaltece o consumo do álcool, droga ligada a maior parte dos casos de estupro, violência doméstica e assassinatos com armas brancas, enquanto se rejeita e se recrimina a planta que acalma, tranquiliza e cura. 

“Tem que ser selado, registrado, carimbado, avaliado, rotulado se quiser voar!” - Raul Seixas

E agora, somado ao preconceito, temos um novo, perigoso e vil jogador. O interesse econômico.

Grandes empresas e Governos pelo mundo afora vem agora querendo controlar o mercado e ditar as regras para poder faturar mais alguns milhões. Concordo que substâncias fabricadas pelo ser humano devem sempre passar por provas rigorosas de controle e qualidade. Mas, quando falamos em fitoterápicos como a cannabis, essas regras são outras, não podem nunca estar no mesmo balaio de gatos que substâncias tóxicas, aditivas e até mortais que hoje são vendidas livremente em farmácias e botecos a cada esquina. 

Se existe algo que a história já provou é que, se em décadas de campanhas covardes a planta não enfraqueceu, não é agora com toda a informação na ponta dos dedos que as pessoas vão se calar, se omitir ou aceitar regras injustas e limitantes.

Se existe algo que a história já provou é que, se em décadas de campanhas covardes a planta não enfraqueceu, não é agora com toda a informação na ponta dos dedos que as pessoas vão se calar, se omitir ou aceitar regras injustas e limitantes. Um a um, os antigos preconceitos e mentiras geradas vão caindo, a partir de estudos científicos, experiências verídicas e, principalmente, da história de vida de milhares de pessoas sendo resgatadas através da planta.

Quem comanda as decisões deveria ter percebido, quase um século depois, que não adianta reprimir aquilo que, por direito,  pertence às pessoas e a humanidade. 

Estão achando que são o Garoto Hans Brinker salvando a Holanda e assim tentando, em vão,  colocar os dedos em cada uma das rachaduras do dique do conhecimento sem perceber que em breve esse mesmo dique irá romper sobre suas cabeças e inundar toda a sociedade com conhecimento e razão.  Viva a planta, a liberdade e a verdade!

“Quando a injustiça se torna lei, a resistência se torna dever” - Thomas Jefferson

*Rodolfo Rosato é empresário, ativista canábico, fundador e CVO da Terracannabis Medicinal e colunista do Sechat

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e não correspondem, necessariamente, à posição do Sechat.

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