A experiência em trocar saberes com 34 associações canábicas

Presenciar os relatos e constatar prestação de serviços oferecidos por essas entidades é de encher os olhos e o coração

Publicada em 18/05/2023

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Por Maria José Delgado Fagundes

Um ponto em comum dos saberes, naquela histórica reunião, na ensolarada cidade de João Pessoa (PB) é que, a cannabis de uso medicinal é uma droga legal comumente usada e está associada a resultados favoráveis à saúde, estatutos bem documentados pela ciência, tanto em casos agudos quanto crônicos.

As estruturas para o controle da cannabis de uso medicinal estão mudando cada vez mais para princípios dedicados à saúde pública, com alguns países realizando as respectivas reformas políticas, inclusive no Brasil. Embora as mudanças para  cannabis medicinal permaneçam controversas, estão inseridas em uma tendência, no pensamento geral, cada vez mais orientada  em opções e estratégias de controle de substâncias psicoativas mundialmente assim organizadas.

Essas estruturas requerem processos orientativos para a população – por exemplo, adesão ao tratamento, cuidado com as interações com medicamentos e alimentos, nutrição que favoreça o melhor resultado do produto e, as atividades físicas para promoção da qualidade de vida –, bem como para profissionais de saúde, no sentido de ampliação do conhecimento sobre a planta nas formações acadêmicas. No tocante a operadores do direito, a importância da construção de teses em defesa da proteção dos cidadãos. Para as associações canábicas, no grande desafio em ampliar suas ações e saberes dentro do mundo regulado e a todos que lutam para ampliar o conhecimento dessa planta milenar que chega para propiciar saúde de maneira equânime.

Sabemos dos avanços que as associações de pacientes conquistam, propiciando assistência multidisciplinar. Presenciar os relatos e constatar prestação de serviços de terapia ocupacional, atendimento de profissionais médicos qualificados, garantir o acesso e a adesão ao tratamento e tantas outras atividades de encher os olhos e o coração. O evento realizado em João Pessoa, na última semana de abril de 2023 foi um presente. Essas pessoas se dedicam ao próximo mais vulnerável, no contexto de que a ausência do Estado trouxe danos permanentes, atrasos no controle das etapas de evolução da doença, enfim pessoas cuidando de pessoas onde o Executivo não conseguiu alcançar.

Avaliando os parágrafos anteriores, é perfeitamente visível a assimetria entre esse, que parece dois mundos da saúde, mas que é único, universal e de igual importância para toda sociedade. 

É preciso estabelecer um processo de construção coletiva possível se compartilharmos conhecimento, olhando nos olhos das pessoas, pois só assim  vamos sentir o engajamento ou não daqueles que estão trocando nesses momentos os saberes distintos. É claro que será necessária também uma adaptação sociocultural para uma implementação significativa desse desafio mas garanto, que naquele evento, além da generosidade dos que ali estavam, todos e todas me diziam que é possível. 

A UNACAM - União Nacional das Associações da Cannabis Medicinal - inovou e competentemente propiciou um evento rico em troca de ações, onde todos puderam ampliar seus conhecimentos e, o mais importante, tiveram o entendimento de que as questões legais ou infralegais deverão ser construídas com a efetiva participação das associações, das autoridades, das universidades e terão de ser exaustivamente enfrentadas em benefício dos pacientes.

https://www.youtube.com/watch?v=7hyTJUHijK4

Fica a indagação. Como propiciar a convergência para que o paciente receba a assistência devida, seja do Estado, seja dos interatores que complementam a capacidade de assistência ao indivíduo? Me ajudem a refletir mais sobre esse cenário e como não podemos deixar de reverenciar o papel das associações canábicas.

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e de responsabilidade de seus autores.

Maria José Delgado Fagundes é CEO na MJDFagundesconsultoria, advogada, profissional  na área de compliance, consultora especializada em saúde, sistemas regulatórios, setor  farmacêutico e associações de suporte a pacientes.