A dura realidade com testemunhos marcantes no Cannabis Thinking

No segundo dia do evento a emoção contagiou a todos com depoimentos comoventes sobre o preconceito e a dificuldade de acesso ao tratamento canabinoide na periferia. Mas felizmente o Brasil conta com pessoas determinadas e engajadas na luta para mudar

Publicada em 19/09/2022

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Por redação Sechat

Em seu discurso, o reitor José Vicente falou sobre racismo estrutural e apontou as soluções para o tráfico. 

’Espaços como este que têm como objetivo conectar dimensões importantes de urgência e que são questões estruturantes do país, como a cannabis e o racismo. O efeito mais expressivo deste problema é a exclusão de público de vulneráveis que são os negros, população mais representativa do Brasil e também mais expressiva. Como isso estaria ligado às drogas e ao tráfico? Os estigmas limitam o debate. ’’

’Estar inserido em uma determinada comunidade gera um juízo de culpabilidade antecipada por esses indivíduos, produzindo distinção, o que provoca uma injustiça social, já que essas pessoas se recolhem como consequência. E muitas delas ainda não têm dimensão e consciência. ’’

’É necessário olhar para quem tem a maior acessibilidade e não tomar como eventual coincidência. ’’

’Uma foto com características da negritude já é suficiente para culpabilizar essas pessoas, se conseguirmos transformar esse imaginário poderíamos iniciar um processo de valorizar as transformações e intervenções estatais. ’’

’Oportunidade como a Cannabis Thinking, para criação de diálogos é uma maneira de se apropriar dos espaços para as reflexões sociais. ’’

’Qual seria a solução para os meninos do tráfico? Entender o que levam eles ali, já que o tráfico é consequência. Falar em combater o crime sem pensar em periferia é continuar a repetir a história de sempre que não obteve sucesso. ’’

‘’Ideias importantes nos tiram do conformismo, a universidade por natureza tem essa proposta, a universidade zumbi dos palmares faz isso há vinte anos.”

’Quando você avalia o impacto do racismo, o grau de estresse, ansiedade e perturbação psicológica é enorme, deve haver um trabalho governamental.’’

A mesa seguinte abordou o tema  Terceiro Setor e foi composta por Alex Lucena (moderador e Cheif Innovation Officer and Partner at The Green Hub), Lucia de Fatima Cabral (Fundadora da ONG Educap) e Rafaela Figueiredo (fundadora do NEEM - Núcleo de Estimulação Estrela de Maria)

Durante esse debate foi apresentado um projeto social pela ONG EDUCAP e o Núcleo de Estimulação Estrela de Maria com o apoio da  USA Hemp que entrega os medicamentos de CBD.O projeto realizado no complexo do Alemão (Rio de Janeiro) atende crianças atípicas e com síndromes diversas para que tenham acesso ao tratamento com CBD. Lúcia Cabral construiu toda a sua vida no Complexo do Alemão. Começou um projeto social dando aula, alfabetizando adultos e também lutando por políticas públicas na favela. Tornou-se professora, trabalhou com as militâncias das pastorais e se ligou à luta pela promoção da saúde. 

Sempre mediei as questões de saúde dentro do Alemão. Toda minha história foi pensando em política pública e saúde dentro da favela. Em 2013 me formei assistente Social e em 2007 quando a polícia entrou na favela e matou 21 jovens acabei me envolvendo na luta por essas famílias. Durante esse período foi uma militância muito forte e já queríamos combater a questão das guerras às drogas.” 

Criei o Educap para movimentar os jovens das comunidades, consegui um terreno e fui trabalhar com os jovens, com o apoio da embaixada britânica consegui um espaço feito de container e a militância continuou contra as opressões e por políticas públicas dentro do Complexo do Alemão.”

Durante um período encontro a Rafaela e começamos a caminhar juntas dentro do Educap, que funciona apenas com o trabalho voluntário. A única empresa que nos apoia é a USA Hemp na questão do CBD”.

Lutar dentro da favela com a questão da cannabis é viver praticamente com um fuzil apontado para você. Para ter esse acesso com segurança foi preciso conversar com todos os setores envolvidos. Passamos a lutar contra o preconceito e fazer a população entender que não é a maconha que está ali, mas uma erva que traz qualidade de vida e benefícios para quem precisa. Essa conversa parte por meio das realidades existentes, explicamos que o boldo é usado para o estômago, trazemos a ancestralidade do território, do uso milenar das ervas para curar como uma forma de chegar às pessoas sem que a planta tenha a conotação de crime.”

Cannabis para mim é sinônimo de saúde! Precisamos expandir esse debate, nossa economia nacional e local seria muito melhor quando sairmos do diálogo para a ação.”

Rafaela Figueiredo conta que o programa da Cannabis no Complexo do Alemão no início não tinha nenhum apoio financeiro. Ela se juntou com outras mães para iniciar o processo de judicialização e a chegada do medicamento demorava de cinco a oito meses, depois de autorizado pela justiça. Com o apoio da USA Hemp o atendimento saltou de 25 crianças para 100 pessoas. Hoje são mais de 20 favelas e a ação ultrapassou os limites do complexo.

O projeto começou quando descobri que minha filha Maria era autista e assim iniciou minha luta com outras mães para que a favela também tivesse acesso ao medicamento.

Fui em vários médicos e todos receitavam os medicamentos alopáticos. Quando procurei o CBD fui informada que a cannabis medicinal não era para a favela por causa do custo alto. A Maria foi a primeira criança do Complexo do Alemão a ter acesso ao medicamento importado dos EUA, mas eu queria que todas as crianças que precisassem tivessem acesso ao CBD. A USA HEMP chegou com esse olhar para dentro do nosso território, oferecendo um medicamento gratuito e com o potencial de atender todas as crianças necessitadas, para a redução de danos e promoção da saúde.”