A dor não tem ideologia política

A guerra entre partidos políticos pode até capitalizar votos, aumentar audiência e likes, mas em nada ajuda a vida das pessoas ou as nossas vidas

Publicada em 05/02/2023

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Por Norberto Fischer

Enquanto as mídias sociais e os canais de televisão, em busca do aumento de audiência e likes, fomentam a cada dia mais uma guerra política e ideológica, a dor das famílias com parentes que precisam de cuidados especiais não para.

Uma dor que não será interrompida, aguardando que um dia o Brasil tenha uma Lei Nacional que permita o real acesso às diferentes opções de tratamento, incluindo aqueles com produtos derivados da cannabis.

A seguir, um olhar rápido sobre alguns “tempos e movimentos políticos” sobre esse tema, tão sensível e urgente para milhares de brasileiros.

Por intermédio da Lei 5.626/2016, de autoria de um Pastor Evangélico, na época deputado distrital Rodrigo Delmasso, o Cannabidiol entrou para a lista de produtos a ser oferecido gratuitamente na rede pública do Distrito Federal.

... seis anos depois ...

O atual governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas, sancionou a pouco, no dia 31 de janeiro, o PL 1.180/2019, com vetos e promessa de criação em 10 dias de grupo de trabalho para regulamentar as novas regras, fato que foi divulgado e noticiado aqui no Sechat.

E, enquanto isso, o PL 399/2015, futura Lei Elisaldo Carlini, em Brasília, está parado e aguardando uma Deliberação do Recurso da Mesa Diretora dos Deputados.

O objetivo aqui não é apresentar detalhes desses Projetos de Lei, apontar quantos que estão sendo apresentados em tantos municípios e estados, se são regulamentações justas, se deveriam abordar aspectos do plantio nacional, uso industrial, medicinal, etc, mas ressaltar a importância e urgência do assunto.

Aqueles que conhecem e convivem com as pessoas que usam de forma medicinal os derivados da cannabis, são testemunhas disso. Basta fazer uma consulta rápida na Internet para localizar centenas de relatos emocionantes de pessoas que estão se beneficiando com o uso. Mas também é fácil encontrar outras dezenas e centenas de relatos desesperados de pessoas que querem usar, e até que deixaram de ter acesso, mesmo com determinação judicial favorável.

No link a seguir, é possível ver e sentir a emoção do Governador Tarcísio falando do sobrinho, com síndrome de Dravet e seu relato pessoal do resultado positivo do uso do cannabidiol

https://www.youtube.com/watch?v=kX7NTdRl360

Convido o leitor a refletir. Se o Governador do maior estado do Brasil (em tamanho e poder econômico), precisa se envolver pessoalmente, para articular a regulamentação de um PL, ficam as perguntas:

- E a filha do seu João, lá no interior da Paraíba?

- O pai do José, no Acre?

- A sobrinha da tia Maria em Candangolândia, no Distrito Federal?

Como eles estão se sentido? O que se pode fazer? Como fica a dor dessas famílias?

Prezados gestores públicos, deputados federais e senadores, a dor não tem ideologia política e a espera é angustiante. A guerra entre partidos políticos pode até capitalizar votos, aumentar audiência e likes, mas em nada ajuda a vida dessas pessoas, as nossas vidas.

A ciência política é linda, a negociação política é uma arte, mas a politicagem pelo poder e a briga ideológica política é burra, causa dor, desespero. Pode levar ao sofrimento e à morte de pessoas, na grande maioria inocentes que colocam suas esperanças nas mãos de políticos, esperando que eles façam aquilo que deveria ser justo e perfeito.

O Brasil precisa evoluir urgentemente, de forma séria e consistente, é necessário regular e autorizar o Plantio Nacional da cannabis, desburocratizar todos os processos que envolvem a produção desses medicamentos, eliminar impostos, qualificar os médicos, e entender, definitivamente, que a Dor, não tem ideologia.

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e de responsabilidade de seus autores.

Norberto Fischer é pai de Anny Fischer, primeira brasileira autorizada legalmente a importar o extrato da maconha para uso medicinal. Tornou-se articulador político no Brasil, com repercussão internacional, destacando-se no ativismo pelo direito ao acesso, distribuição pelo SUS, custeio dos tratamentos pelos planos de saúde, plantio e produção nacional por empresas, ONGs e autocultivo.