A Cannabis Sativa e o Meio Ambiente

O que é preciso para incluir a cannabis como cultivo essencial na sequência de rotação agrícola?

Publicada em 13/03/2023

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Por Marco Algorta

Muito se tem falado sobre o potencial ecológico da planta Cannabis Sativa. Por um lado, vários atributos agronômicos e ambientais podem posicioná-la como um cultivo importante na sequência de rotação agrícola.

Seu ciclo de produção curto três a quatro meses) e a baixa exigência de fungicidas e herbicidas podem desempenhar um papel vital na redução dos gases de efeito estufa e fornecer aos agricultores valiosos créditos pelo sequestro eficiente de carbono (cinco vezes mais que as florestas).

Além disso, os cultivos ajudam a conservar os valiosos recursos hídricos, melhorando a qualidade do solo. O caso mais emblemático é o de Chernobyl.

Por quase duas décadas, o cultivo de cânhamo industrial nos arredores da usina nuclear abandonada em Pripyat, na Ucrânia, tem ajudado a reduzir a toxicidade do solo.

Em 1990, apenas quatro anos após a explosão inicial, a administração soviética da época solicitou que a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) avaliasse a situação ambiental. Na zona de exclusão de 30 km ao redor de Chernobyl, altas concentrações de vários metais tóxicos, incluindo chumbo, césio-137, estrôncio-90 e plutônio, foram encontradas no solo, bem como nos tecidos de plantas e animais.

Em resposta, foi decidido que seria realizado um esforço conjunto para reduzir a contaminação do solo por meio do uso de plantas benéficas. Esse processo, conhecido como fitorremediação, foi implementado quase imediatamente. Slavik Dushenkov,  cientista pesquisador da Phytotech, uma das organizações por trás das plantações de cânhamo, afirmou que o cânhamo está provando ser uma das melhores plantas fitorremediadoras que podemos encontrar.

Na prática, entretanto, a situação é bem diferente.

Por um lado, as altas exigências para os cultivos de cannabis medicinal fazem com que essa atividade tenha uma enorme pegada de carbono. Quantidades abismais de energia estão sendo gastas para se obter um produto final que respeite as regulações sanitárias hiper exigentes pelo mundo. O aumento do custo da energia, pela guerra na Europa, torna a produção pouco lucrativa. 

Mesmo os cultivos de cânhamo industrial, por mais que a produção agrícola seja sustentável, têm uma cadeia de produção e distribuição até o cliente final que está longe de ser sustentável. Produtos alimentícios de cânhamo exportados por via aérea, altas exigências de processos pós-colheita e custos extras, sempre aplicados na base da desconfiança nesse mercado, aumentam de forma significativa a sua pegada de carbono.

É preciso desregular a cannabis sativa. Desregular para gerar produtos com real valor terapêutico, para maior acessibilidade aos produtos pelos pacientes, desregular para gerar uma indústria com real valor agregado, para aproveitar uma oportunidade de desenvolvimento e geração de empregos e, também, desregular para fazer, deste segmento, uma alternativa contra as mudanças climáticas, passando assim  do discurso a uma real sustentabilidade ecológica.

As opiniões veiculadas nesse artigo são pessoais e não correspondem, necessariamente, à posição do Sechat.

Sobre o autor:

Marco Algorta mora no Uruguai e está na indústria da cannabis desde o começo. Ele foi um dos promotores da Câmara das Empresas de Cannabis Medicinal, sendo eleito o primeiro presidente. Marco deu palestras nos Estados Unidos, Canadá, México, Argentina, Uruguai e Brasil, é pai de cinco filhos e magister em narrativa e redação criativa.