Entidades do RJ lançam manifesto pelo Dia da Maconha Medicinal

Evento no dia 27 de novembro reunirá pacientes, médicos e pesquisadores, além de exibir o filme 'Estado de Proibição' e a apresentação de um bloco de carnaval

Publicada em 18/11/2019

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O Rio de Janeiro é um dos estados mais avançados com relação à cannabis medicinal no Brasil. Tem associações fortes como a Apepi e a AbraCannabis, a rede de juristas Reforma, é onde está a FioCruz e a UFRJ, entidades com bastante investimento em pesquisas com a maconha e também é o estado com mais decisões judiciais favoráveis que autorizam o cultivo da planta para fabricação de remédios artesanais.

Também é no Rio de Janeiro que muitos políticos a favor da legalização da maconha se projetaram nacionalmente, como Carlos Minc, Renato Cinco e Dani Monteiro. E muitos destes atores e entidades se organizaram para lançar o “Manifesto pelo Dia Nacional da Maconha Medicinal”.

Será no dia 27 de novembro, a partir das 15h, no Largo Carioca, centro da capital. Na ocasião, haverá rodas de conversas, depoimentos de pacientes, exibição de um filme e até um bloco carnavalesco.

"Decidimos por a estrutura na rua, com panfletagem no corpo a corpo, que é pra fazer contato com o público em geral, com os pedestres. Assim a gente encontra aqueles que não gostam de falar do assunto também. E aí as associações vão fazer um acolhimento de todos", explicou uma das organizadoras do evento, a cineasta Rita Carvana, mãe de um menino com epilepsia de 13 anos e que está tomando um óleo integral de cannabis.

Confira a programação do evento

15h - panfletagem e acolhimento
16h20 - 'Maconha & Saúde', roda de conversa com João Menezes, Lúcia Lambert (Reforma) e Bernardo Monteiro (Abracannabis)
18h - Depoimento de pacientes
19h - Favela Cine Clube, exibição do curta 'Estado de proibição'
19h20 - Slam de poesias
19h40 - cortejo do bloco carnavalesco Planta da Mente

O manifesto foi escrito de forma colaborativa pelas associações, ativistas, coletivos e movimentos que participaram da organização desse ato.

MANIFESTO – Em 2019 o uso medicinal da maconha já é uma realidade em muitos países. Os pacientes procuram nessa planta milenar tratamento para os mais diversos males, desde a terrível epilepsia refratária, passando pelas dores crônicas, doenças autoimunes, autismo, câncer, Parkinson, Alzheimer e muitas outras enfermidades. Os avanços da ciência explicam seu mecanismo de ação e confirmam seus benefícios. Os pacientes procuram a maconha independente de religião ou orientação política, simplesmente porque funciona.

Enquanto isso, no Brasil avançamos a passos lentos em uma tímida regulamentação, graças à interdição deste desgoverno que é avesso à ciência e à razão. Tratamos a planta como uma droga e o simples ato de plantar o próprio remédio pode resultar em prisão, deixando um promissor mercado para o monopólio da indústria farmacêutica.

A guerra às drogas criminaliza a população negra e promove o genocídio da juventude periférica. Pessoas negras são mais condenadas por tráfico do que os brancos, mesmo quando portam menores quantidades de drogas. Cria-se uma geração de jovens estigmatizados por pequenas passagens pela prisão.

Saúde é direito, maconha é remédio, mas o acesso ao tratamento com a planta no país ainda é um privilégio. Por preconceito ou desconhecimento, poucos médicos fazem a prescrição, especialmente na rede pública. O paciente precisa de uma autorização especial da Anvisa, em um processo lento e burocrático. Com a certidão em mãos, a importação é cara: um frasco de 60 ml pode chegar a custar R$1500, restringindo o acesso ao remédio à elite branca que pode pagar.

Muitas famílias procuram plantar seu próprio remédio, aprendendo técnicas de cultivo em cursos oferecidos por associações, numa aliança entre pacientes e cultivadores. Estes continuam alienados do processo regulatório e estão sempre correndo o risco de ficarem privados da liberdade.

Sendo assim, lutamos por um real acesso ao remédio como política pública de saúde do Estado, inclusive através do SUS, como qualquer outro tratamento médico. Que as pesquisas clínicas com cannabis possam ser desenvolvidas em nossas universidades e instituições públicas de pesquisa, como a Fiocruz. A cannabis é uma planta extremamente barata e todo mundo poderia cultivar no seu quintal, ainda assim, por causa de uma política preconceituosa, somos importadores de cannabis trazendo de fora um remédio que custa uma fortuna e restringindo o tratamento à classe alta.

Não queremos mais ser importadores, por causa de uma política preconceituosa, trazer de fora um remédio que custa uma fortuna, um tratamento restrito à classe alta. É uma planta extremamente barata, todo mundo poderia cultivar no seu quintal.

Somos a sociedade civil organizada! Se existe alguma regulamentação da maconha medicinal é porque os pacientes e as mães de pacientes exigiram o direito constitucional à saúde. Lutamos por saúde e pelo acesso amplo e irrestrito! A desinformação e o obscurantismo matam.